sexta-feira, 20 de julho de 2018

Não deixe que a negatividade alheia atrapalhe você




Somos antenas em busca de sintonia e podemos nos conectar com ondas mais baixas, mas é possível ressintonizar

'Somos todos um' não é apenas mais uma frase de efeito. Há milênios, a filosofia oriental explica através da teoria dos cinco movimentos como tudo no Universo está interligado, funcionando como um único organismo. Atualmente, traduzimos esse conhecimento como pensamento sistêmico - que foi introduzido no Ocidente por Carl G. Jung, psiquiatra e psicanalista suíço fundador da Psicologia Analítica.

O que antes era visto como crença, hoje pode ser comprovado graças ao avanço da neurociência e as descobertas do Dr. Giacomo Rizzolatti, neurofisiologista italiano. A descoberta dos neurônios espelhos fez com a psicologia o que o DNA fez pela Biologia.

O poder da empatia

Hoje é possível, por exemplo, uma explicação fisiológica para o poder da empatia, nossa capacidade de sentir o que o outro sente e de nos conectarmos com o ambiente. Certos locais e situações despertam nossa memória afetiva, que pode surgir de maneira consciente ou inconsciente.

Com certeza você já deve ter percebido como o ambiente e certas relações influenciam o seu estado de espírito. Às vezes, tais interferências se manifestam de maneira tão clara que é possível até detectar com quem ou em que lugar você se sente bem ou mal. Outras vezes, porém, não nos damos conta - e começamos a inventar desculpas para nossas alterações de humor.

Saiba mais: Empatia: como se colocar no lugar do outro e ser mais compreensivo

O fato é que, como estamos todos conectados, captamos informações conscientes e inconscientes e entramos em ressonância com o estado emocional de outras pessoas. Trata-se de uma capacidade humana de sensibilidade. No entanto, há pessoas mais sensíveis que podem sentir desconfortos e serem acometidos de surpresa com ondas de mau humor ou tristeza advindos de estímulos externos.

Já que somos 75% água, somos igualmente excelentes condutores de energia. Como um celular, nos conectamos com tudo e todos. Se bloquearmos simplesmente os sinais para não sermos incomodados, corremos o risco de somatizarmos inúmeras doenças, como por exemplo desenvolver quadros de depressão, ansiedade, angustias e tristezas.

O que é meu e o que é do outro?

O bom é que quando nos tornamos conscientes do que é nosso e do que é do outro, isso nos ajuda a voltar ao equilíbrio. Práticas de relaxamento, meditação e yoga podem ser de grande valia para isso.

Ainda assim, por vezes o que realmente acontece é o que na psicologia chamamos de projeção: um mecanismo de defesa psicológico em que determinada pessoa "projeta" seus pensamentos, motivações, desejos e sentimentos indesejáveis em uma ou mais pessoas. É um processo muito comum e que todas as pessoas utilizam em certa medida.

A vida é uma caixa de surpresas e alguns encontros nos remetem ao Paraíso enquanto outros nos levam à mais profunda solidão da alma. A verdade é que escrevemos nossa história, mas muitas vezes não a lemos em voz alta para ouvirmos, "vê-la" e a percebermos como é, com nossas escolhas e responsabilidades, ponto a ponto.

Saiba mais: Momentos de monotonia: como não pensar besteira

Exercício do espelho

Uma prática simples para avançarmos nesse nosso processo de autoconhecimento e nos auxiliar a discernir o que é nosso é o exercício do espelho (sugerido por John O. Stevens em seu livro Tornar-se Presente).

Vamos lá.

Em uma sala ou quarto confortável em sua casa, deite ou sente de forma relaxada e imagine que está num quarto escuro onde você nada pode enxergar. Há um grande espelho à sua frente. Enquanto o quarto se torna mais claro, você começa a ver sua imagem refletida no espelho.

Essa imagem pode ser totalmente diferente da imagem que você usualmente vê, ou pode até mesmo ser igual. Isso não importa. O que vale é se entregar a essa vivência e olhar para a escuridão, deixando a sua imagem emergir à medida que a luz aumenta. Você logo será capaz de vê-la claramente. Como é a imagem? O que se destaca mais? Qual é sua postura? Como a imagem se move? Qual a sua expressão facial? Que sentimento ou atitude a imagem revela? Como você se sente em relação à imagem?

Observe isso tudo e converse silenciosamente com a imagem e admita que ela pode falar com você. O que ela lhe diz e o que responde? Como você se sente ao falar com ela?

Agora, troque de lugar e torne-se a imagem no espelho. Sendo agora você a imagem do espelho, como você é? Como se sente? O que diz a si próprio ao continuar o diálogo entre vocês? Comente o relacionamento entre vocês dois. Veja se consegue descobrir ainda mais sobre a sua experiência de ser essa imagem. Prossiga a converse entre a imagem e você mesmo durante algum tempo, e perceba que mais pode descobrir sobre vocês. Troque de lugar sempre que quiser, mas prossiga o diálogo e a interação.

Volte agora a ser você mesmo e olhe novamente para a imagem no espelho. Como se sente agora em relação à imagem? Há qualquer modificação na comparação com a imagem que viu pela primeira vez com essa que vê agora? Há algo que queira dizer a ela antes de dizer adeus?

Por fim, lentamente diga adeus a ela... e volte à sua existência, ao seu presente, na sala ou no quarto em que realizou o exercício. Fique quieto e absorva a experiência por algum tempo.

Saiba mais: Reclamar demais pode fazer mal para a saúde, diz estudo

Reflita, sem esquecer que somos uma antena em busca eterna de sintonia e às vezes nos conectamos com ondas mais baixas e sensações de angústia, tristeza e abandono. Mas o bacana é que é possível trocar de onda, sintonizar e nos conectar e interligar ao outro e a tudo em uma trilha de alegrias, prazeres, saúde, amor e harmonia.

Podemos, sim, ser os regentes de nossa vida. E como já diziam os Beatles na canção ?I am the Walrus?: Eu sou ele como você é ele como você é eu e estamos todos juntos (I am he as you are he as you are me and we are all together)!

Amélia Kassis

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